Articuladas lançam publicação “Mulheres, Resistências e o Marco da Violência Institucional”

No dia 16 de julho de 2021 as Articuladas lançaram a publicação “Mulheres, Resistências e o Marco da Violência Institucional”, dentro da Agenda do Julho das Pretas. Essa é a primeira edição da publicação que traz artigos, entrevistas, relatos de experiência e uma linha do tempo da violência institucional no ano de 2020. Para além de refletir criticamente sobre o tema da violência institucional, enuncia estratégias de resistência que tomam como referência a produção do bem viver e a defesa dos direitos humanos das mulheres.

O lançamento contou com a presença das Articuladas Rachel Barros, Ariana Santos e Rose Cipriano, além das parceiras Mônica Cunha, coordenadora do Movimento Moleque; Iara Santos, designer e ilustradora responsável pelo projeto gráfico da publicação e Marilene de Paula, coordenadora dos Programas e Projetos da Fundação Heinrich Boll que apoiou o lançamento.

Live de lançamento da Publicação


Lembrando do 1º Encontro Nacional de Mulheres Negras ocorrido em1988, Rachel Barros iniciou a roda de conversa enchendo o peito e soltando a voz:

"Luiza Mahim
Chefa de negros livres
E a preta Zeferina
Exemplo de Heroína
Aqualtune de Palmares
Soberana quilombola
E Felipa do Pará
Negra Ginga de Angola
África liberta em tuas trincheiras
Quantas anônimas guerreiras brasileiras"
 
Iara Santos, após agradecer às Articuladas pela oportunidade de participar da publicação, destacou alguns elementos que fundamentaram a criação de sua identidade visual. Disse que desde o início buscou trazer elementos que as Articuladas já utilizavam nas suas publicações, tais como as cores e as formas geométricas. Outra referência do trabalho gráfico foi tentar traduzir a força e a vida das mulheres cujas vivências encontram-se registradas nos artigos. As imagens e ilustrações buscaram dar leveza para a leitura do conteúdo que, em geral, trata de  violações de direitos. 
 
Marilene de Paula agradeceu à iniciativa e destacou que “Para falar em violência institucional e preciso fazer um corte racial, porque essa violência institucional tem um viés específico que é o do racismo estrutural que passa por todas as instituições. Nós vivemos num país violento, mas essa violência é seletiva”. 
 
Rose Cipriano saudou a todos e chamou a atenção para o fato que muitas pessoas sofrem a violência institucional, mas não estão percebendo essa violência no cotidiano, e que ela ocorre tanto no âmbito público como no privado. Na área da segurança pública a violência institucional é muito clara como mostrou a Chacina do Jacarezinho” [ocorrida em maio de 2021, nesta favela na cidade do Rio de Janeiro], mas ela também está presente na ausência de equipamentos de Saúde para enfrentamento da Covid-19 nos territórios de favela”.
 
Em diálogo com Rose Cipriano, Ariana Santos pontuou que “é importante a gente compreender a configuração da violência institucional de forma ampla, o que inclui o não acesso aos serviços, a má qualidade dos serviços; mas também as formas mais sutis de violência que estão relacionadas com as relações de poder desigual”. Lembra que essa última dimensão foi tratada no artigo “A Violência obstétrica institucionalizada e estrutural”, o qual deixa marcas profundas nas pessoas negras. Nesse sentido, afirmou Ariana: “A violência institucional impacta os projetos de vida das pessoas, em especial das mulheres negras e dos homens negros. Um exemplo é relativo à violência obstétrica, por que eu que sou uma mulher e negra paro e penso: será que eu quero ter filho?”.
 
Mônica Cunha salientou que “o sistema penal brasileiro é o retrato de como a violência institucional reproduz o navio negreiro na sociedade contemporânea. Ali, dentro das prisões, as pessoas - a maioria delas homens negros - não são vistas como seres humanos. Então, mesmo a gente tendo a Constituição Federal e sendo signatários da Declaração Universal dos Direitos Humanos, na prática a coisa não funciona. A unidade prisional e o sistema socioeducativo não foram pensados para as necessidades das mulheres e dos jovens”. 
 
Como expressão dessa desumanização imposta pelo racismo institucional, a violência tanto no sistema prisional, quanto no socioeducativo é naturalizada.  Mônica Cunha destaca que há uma certeza nesses espaços que traduz a violência institucional e o racismo. A  certeza de que “você nunca mais vai sair daqui de dentro, e se você sair, só vai sair morto, porque independente de sair vivo de dentro do sistema, vai morrer aqui fora”
 
Em relação ao papel das mulheres no enfrentamento da violência institucional Marilene de Paula frisou que “As mulheres têm um papel fundamental que é o de trocar essa chave da violência, pois, ao se articularem tornam-se protagonistas de seus processos e esse protagonismo não é à toa. Nos tempos em que vivemos há uma erosão do que é comum e as mulheres resgatam esse papel do comunitário de alguma forma. Ela ainda ressaltou que “Estamos num momento de pensar o político de outra forma, portanto, não é a toa que o lema do Julho das Pretas deste ano de 2021 foi ‘Brasil Genocida, Mulheres Negras apontam a Solução!’, ou seja, as mulheres têm essa capacidade de apontar caminhos para resistência social”.
 
Já Rose Cipriano lembrou que quando a gente realiza uma retrospectiva da luta das mulheres, o que a gente vê são lutas por maternidade, por educação, travadas no bojo de violências institucionais anteriores, as quais assolam as mulheres e, em especial as mulheres negras. Nesse sentido, o reconhecimento da violência institucional como consequência da estrutura racista, sexista e machista do Estado brasileiro é cada vez mais necessário para o enfrentamento das desigualdades de gênero, raça e classe.

Para saber mais sobre o lançamento veja aqui                             

Texto escrito por Caroline Rodrigues e Tatiana Dahmer
 
 

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