NOTA DAS ARTICULADAS NO NOVEMBRO NEGRO

NOTA DAS ARTICULADAS NO NOVEMBRO NEGRO  

Nós, da coletiva de mulheres Articuladas, vimos acentuar a relevância das manifestações e atividades relacionadas ao Dia Nacional da Consciência Negra e à agenda de ativismo do Novembro Negro. Temos assistido a uma sucessão de violações propaladas pelo Estado e por aqueles que deveriam assegurar proteção social e defesa dos direitos humanos de todas e todos indiscriminadamente. 

No entanto, desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, aprofundam-se ações historicamente violadoras marcadas pelo caráter racista, sexista e contra os mais pobres na sociedade brasileira. O aberto extermínio de pessoas negras e indígenas nas cidades e nas florestas, os permanentes ataques aos recursos naturais, o estímulo a todas as formas de misoginia e LGTTBfobias, o posicionamento subserviente do atual governo aos EUA, o incentivo deliberado á dilapidacão do patrimônio público têm sido tônicas permanentes das ações estatais no Brasil, espraiando-se pelos três níveis federativos e suas diferentes instâncias de gestão - na União, estados e municípios. 

Com o início da pandemia causada pelo Coronavírus vimos acentuar deliberadas ações de descaso e de violência institucional exercidas pelo Estado através de diferentes políticas setoriais: 

(i) A continuidade do extermínio em favelas e periferias das grandes cidades, em particular na do Rio de Janeiro através da segurança pública. No Rio de Janeiro, a despeito da determinação por parte do Superior Tribunal Federal que incursões policiais em favelas no período só poderiam ocorrer em casos absolutamente excepcionais, a invasão violadora de casas, dos territórios mais empobrecidos e o descaso com vidas que ali habitam produziram 800 mortes no período de junho de 2020 a abril de 2021, expondo o sistemático desrespeito à vida e à medida protetiva que suspende tais ações em tempos de pandemia, a ADPF das Favelas. 

(ii) O agravamento da crise econômica causado pelas medidas de ajuste fiscal e pelo desemprego acentuado com a pandemia, não permitiu que as pessoas atingidas pudessem encontrar o mínimo de amparo assistencial, de seguridade / proteção social em políticas de assistência social, de moradia e de saúde. Decisões governamentais que desestruturaram  ações anteriores - em si já frágeis, mas minimamente protetivas contribuíram cotidianamente para o agravamento da fome, da miséria, do adoecimento mental e do aumento de pessoas em situação de rua, inscrevendo o Brasil novamente no mapa mundial da fome.  

(iii) Por fim, mas não menos relevante, a gestão estatal federal das ações relacionadas à pandemia é marcada por aberrações.Desde o deboche e o descaso públicos do Presidente com mais de 600 mil vidas perdidas, passando pela corrupção na compra de vacinas e o impacto no atraso de sua distribuição, até pela proliferação a partir do governo federal, do Executivo e do Ministério da Saúde, de notícias falsas, da promoção arbitrária de tratamentos ineficazes e que impactam a saúde, diferentes violações conformaram a condução da pandemia no país. Ressaltamos a subnotificação de casos e necessária iniciativa de moradores (as) de favelas quanto à notificação e visibilidade de casos nesses territórios largados à sua sorte. No Rio de Janeiro, em 300 favelas, associações de moradores, ONGs e entidades da sociedade civil registraram 5.855 de mortes no Painel Unificador das Favelas de Covid-19 entre julho de 2020 e julho de 2021. 

Recentemente, a CPI da Covid, instalada no Senado em final de abril de 2021 para apurar denúncias graves e responsabilidades do governo quanto à condução na área, entregou seu relatório final indiciando o presidente Jair Bolsonaro por mais de 10 crimes, bem como ex-ministros e o atual, da Saúde, de Relações Exteriores, deputados federais e outros aliados por diferentes crimes relacionados à corrupção, manipulação de dados, prevaricação e difusão de notícias falsas. Discute-se agora se o conjunto de violações deve ser qualificado como “genocídio” ou “crime contra a humanidade” para desdobramentos e responsabilizações em outras esferas, inclusive internacionais. 

Nós, das Articuladas expomos nosso repúdio e revolta com toda essa situação, reforçamos que seja reconhecido o caráter genocida das ações governamentais em relação às populações pretas, indígenas e pobres, ao serem tratadas como vidas que podem se perder. 

Por isso, mais do que nunca, reforçamos a relevância da mobilização política e da visibilidade em torno das violências históricas e atuais sofridas pela população negra. Neste 20 de novembro de 2021 as Articuladas se somam às muitas vozes de denúncia e resistência social da sociedade brasileira.  

Outras Notícias

 Coronavírus, “os Moleques” e a Necropolítica

07/07/2020 Por Silvia Carvalho  e Tatiana Dahmer “vai ser muita ironia se eu morrer de coronavírus, minha vida está em risco todos os dias quando eu saio na rua, não vai ser de um vírus que eu vou...

Articuladas entrevistam Monica Cunha

Na publicação “Mulheres, Resistências e o Marco da Violência Institucional” as Articuladas entrevistaram mulheres que têm amplificado o debate sobre a violência institucional (VI) em suas áreas de ...